A oração e a contemplação estão inteiramente relacionadas, mas não se podem confundir. Nem todas as orações são actos de contemplação e a contemplação não ocupa todos os lugares da oração. Parece que esta (a contemplação) tenha a sua maior expressão na oração, até porque contribui para qualificar a sua natureza profunda. Todavia, precisamos de reconhecer rapidamente que a contemplação é um desafio. Há em nós a diabólica tendência para contrapor actividade e paixão, procura e renúncia, esforço e abandono, resistência e rendição, trabalho e família. Esta mesma tendência leva-nos a contrapor contemplação e acção, ressentindo-se tanto uma como a outra. A contemplação desmascara estes dualismos, porque revela-se também ela como uma acção. Partamos do título: “sentados a contemplar”. “Sentados” não é o “estar sentados” mas o “acto de se sentar”. Quem está sentado já abandonou a responsabilidade da vida, já venceu os desejos e narcotizou a mente: quem está sentado está adormecido, narcotizado. Quem se senta, pelo contrário, cumpre um acto vital, exprime e em parte realiza um desejo, desperta em si novas possibilidades, e talvez se disponha a contemplar.
Descubramos aquele «diabólico» que impede a contemplação, aquele «diabólico» que separa o repouso e a acção; reflictamos sobre esta ambiguidade da existência para poder chegar à verdade daquilo que somos, à harmonia que em nós existe. A contemplação que ultrapassa a sua compreensão superficial, não hesita em perseguir o possuir sem o ser, precisamente porque não divorcia a acção do repouso.
Dom Bernardino, osb
Abade de Singeverga