As Filhas do Coração de Maria, em Portugal desde 1932, estão a terminar a celebração do bicentenário do nascimento para a Vida eterna da sua fundadora, Adelaide de Cicé – 26 de Abril de 1818, diante do Santíssimo Sacramento, na capela das Missões Estrangeiras, em Paris.
A Sociedade das Filhas do Coração de Maria é um instituto religioso de direito pontifício fundado em França, no ano de 1791. Em plena Revolução Francesa, torna-se possível concretizar uma nova e diferente forma de vida, como resposta à necessidade de manter a vida religiosa na Igreja e suprir a falta de congregações extintas pelo poder civil. Tal aconteceu graças aos fundadores Pedro de Clorivière, sj e Adelaide de Cicé que se deixaram conduzir de forma dócil e audaciosa pelo Espírito Santo.
Em plena Revolução Francesa, a Sociedade permite uma nova forma de vida religiosa adaptada às circunstâncias nas quais a Igreja se encontrava – estar no mundo, sem hábito nem sinais distintivos ou habitação comum, numa consagração total a Deus pelos votos de castidade, pobreza e obediência, aliando a vida ativa à vida contemplativa, tendo Maria e os primeiros cristãos como modelo.
Unidas pela escolha de Cristo, vivemos na diversidade uma mesma vocação.
O nome que nos foi dado exprime bem a nossa identidade e a nossa missão de interioridade e de presença cordial em pleno mundo.
A discrição, indispensável nas origens, ainda hoje nos caracteriza permitindo uma presença em todos os meios, mesmo nos que são hostis à Igreja.
Uma mulher que, seguindo o seu desejo mais profundo, ousou sonhar e se deixou conduzir pelo Espírito percorrendo caminhos inéditos e sendas desconhecidas, para além das normas estabelecidas e para lá das suas próprias inseguranças.
Adelaide de Cicé foi uma mulher que se norteou sempre por uma busca incansável da vontade de Deus e por um interesse e um amor efetivo pelos mais desfavorecidos, membros sofredores de Jesus Cristo. No início de 1801, Adelaide chegou mesmo a estar presa, sujeitando-se a um duro processo judicial, com possível pena de morte, por, numa das suas obras de caridade, ter dado guarida, sem o saber, ao mentor do atentado contra Napoleão, que se apresentara como um simples emigrante em necessidade. Foi ilibada, valendo para tanto os inúmeros testemunhos dos pobres de quem ela fora cuidando ao longo do tempo.
A 29 de junho, iniciar-se-á igualmente a celebração do bicentenário da entrada na vida eterna do nosso fundador, Pedro de Clorivière, sj.
A celebração destes bicentenários é, sem dúvida, uma oportunidade excecional para aprofundarmos a herança recebida, para nos deixarmos questionar hoje pelo seu legado espiritual bem como pela resposta original que souberam dar ao tempo que lhes foi dado viver, não muito diferente do nosso.