O meu nome é Sílvia e sou irmã Hospitaleira do Sagrado Coração de Jesus.
Posso dizer que nunca em criança ou adolescente pensei ser religiosa. Ia à missa, frequentei a catequese mas a vida religiosa nunca foi para mim algo que me suscitasse atenção ou questionamento.
Um dia, estando eu a frequentar já o ensino superior, participei num congresso da minha área profissional – serviço social. Decorreu nas instalações de um Ministério dedicado à juventude. Num dos intervalos desta atividade, deparei-me com uma prateleira onde havia informação de várias atividades para jovens durante o verão. Uma destas suscitou-me verdadeiro interesse… eram os Campos de Férias Hospitaleiros… Chamou-me particularmente à atenção pelo grupo alvo em favor de quem se realizava: pessoas com doença mental… Era uma área que sempre me tinha assustado, por um lado; por outro, em relação à mesma sentia muita curiosidade, muita vontade de me aproximar…
Terminado o congresso levei comigo um dos folhetos de inscrição e sem pensar muito nos meus medos, inscrevi-me. E disse comigo mesma: “Agora está feito… nem pensar voltar atrás!” A atividade em questão realizar-se-ia dentro de 2 meses!
Fui! Confesso que o dia em que cheguei e sobretudo o dia seguinte foram para mim uma espécie de prova. Por um lado, não conhecia ninguém. Por outro, feita a visita à casa de saúde deparei-me com pessoas cujo afeto era mais expressivo do que eu estava habituada a dar ou a receber e isso causou-me algum receio. No final daquele dia perguntei a mim mesma: “Irás aguentar até ao fim?” e assim como me perguntei, também de imediato me respondi: “Claro que sim! Não sairás antes do final.” E fiquei…
Muita coisa aconteceu em poucos dias dentro de mim e fora: o encontro e a relação com as doentes, os momentos de oração e de partilha… Foi tanto que no dia de partir eu não quis partir. Fiquei mais um dia… E fiz a minha inscrição para um retiro vocacional que se realizaria também ali, 4 meses depois.
Sentia duas coisas muito diversas: um grande medo e uma grande alegria e era algo para mim muito estranho.
Sentia que o Senhor me chamava a ficar, a ser HSC… mas pensava que podia ser uma ilusão de momento… eu que já tinha planos para mim… como enquadrar-me noutros planos que eu nunca tinha imaginado? Eu que nunca tinha pensado ser religiosa… Como era possível isso me passar pela cabeça?… E, surpresa das surpresas, apesar do medo, me sentir ao mesmo tempo tão tranquila com esta possível reviravolta na minha vida?
Depois do retiro pedi para ser acompanhada no discernimento da minha vocação, processo este que entre avanços e recuos levou 3 anos… o tempo necessário para finalizar os estudos e ainda trabalhar por algum tempo.
Entrei ao postulantado com 25 anos e fiz o meu percurso formativo: noviciado, 1ª Profissão, Juniorado que incluiu um ano de missão em Moçambique e Profissão Perpétua, em 2006.
Depois deste passo terminei os meus estudos na área da Teologia e segui em 2008 para Angola, onde me encontro ainda, desejando deixar-me conduzir pelo Espírito Santo para também ali viver e construir a Hospitalidade, segundo os Seus planos.
O meu percurso na vida religiosa não é ainda muito longo, mas em cada dia vou experimentando que Deus me chama e é isso o alimento mais forte da minha vocação. Ele vai-Se revelando em tantas situações e sobretudo nas pessoas: em cada Irmã, que sei que se alimenta do mesmo alimento que eu – o Senhor – e por isso me sinto a ela irmanada; nos doentes em quem tantas vezes Jesus Se revela e por meio dos quais Se me comunica; nos colaboradores e voluntários com quem tenho cruzado e que me falam tantas vezes da generosidade e gratuidade de Deus… e em tantas outras pessoas, por meio das quais Deus Se me diz, contanto que esteja eu disponível para O reconhecer e me sentir interpelada por Ele.
Sentir-me chamada em cada dia a viver a consagração é um desafio que me exige atenção a mim mesma, ao modo como me deixo motivar ou não pelas interpelações do Senhor, nas situações que vivo e ao mesmo tempo é um convite à esperança e à alegria. Esperança e alegria que brotam do “Sim” dado em cada ato de vontade e de desejo de responder com fidelidade e entrega a Deus, que não sabe ser outra coisa que não Fidelidade e Entrega, também na minha vida.
Ir. Sílvia Maria de Carvalho, hscj