Fidelidade!… Uma das palavras mais profundas e bonitas de se dizer para se viver, embora se diga e viva uma outra, que parece estar mais na “moda”: a infidelidade!…
Fidelidade!… Uma palavra tão forte e tão grande, mas, às vezes, tão banalizada e tão debilitada!…
Eu chamo-me Célia Patrícia Abreu Faria… Entrei para a Congregação das Religiosas de Maria Imaculada, no dia 10 de Setembro de 1996, tinha eu 18 anos feitos há pouco tempo! Como o tempo corre!… Tenho agora 36 anos e sinto que, todos os dias, tenho de construir a minha felicidade que, para mim, foi sempre sinónimo de fidelidade.
Quero escrever sobre a fidelidade, porque a quero viver sempre mais e levá-la às jovens que Deus me confia: como caminho para a felicidade que tanto anseiam, mas que, muitas vezes, não a sabem procurar e encontrar!
O meu olhar de consagrada, há 18 anos, volta-se para um tema, que parece devia ter sido escolhido por um outro olhar de mais anos e de mais experiência – talvez fosse mais adequado, mais credível, mais completo!
Contudo, vou falar de fidelidade e da minha fidelidade!
Em tempos de crise de respostas felizes de um caminho realizado e de quem deseja continuar a caminhar a sós consigo e acompanhada com os outros, eu quero e posso falar de fidelidade!
Cresci vendo nos meus pais e avós a felicidade e fidelidade sempre juntas; os valores da fé e da fidelidade sempre ligados! Tanto no meio dos meus momentos de mais dificuldade, desânimo, tristeza ou de maior luta, como nos mais fáceis e felizes, ajudou-me sempre muito querer ser fiel…
Querer ser fiel à oração… como tempo e espaço vitais e afetivos para estar com Deus, escutá-Lo e falar-Lhe, contar com Ele no meu dia-a-dia e não tanto como um dever e obrigação formal, como norma ou rotina de rezar;
Querer ser fiel ao acompanhamento espiritual… como atitude de transparência e verdade, de deixar-me confrontar com humildade numa dependência da mediação de Deus e não tanto como uma dependência infantil que não me ajudaria a avançar no caminho da fé;
Querer ser fiel à essência dos meus votos de Pobreza, Castidade e Obediência, como resposta de fé e amor a uma graça e vocação recebida e não tanto como uma espécie de carga ou défice de algo ou até mesmo como imposição de renúncias;
Querer ser fiel no pouco e pequeno, procurando ser coerente no pensar, falar e agir no meu peregrinar quotidiano… como tive e tenho a graça de poder ver em muitas pessoas que conheço e conheci ao longo da minha vida.
Querer ser fiel como a Virgem Maria e Santa Vicenta Maria, fundadora da minha Congregação, mulheres peregrinas de um único Norte: a Vontade de Deus.
Eu caracterizaria, portanto, a fidelidade, relacionando-a com outras duas palavras: fé e felicidade. Três “f” que são três forças para a vida, um dinamismo de três “inter” – interiorização, inter-relação e inter-ação. Entendo que vivo a fé em Cristo, dentro de mim, na fidelidade ao Espírito Santo, em inter-relação fraterna com a Sua Igreja e com todos para responder a uma vocação e missão recebida, em constante inter-ação de dons, para glória de Deus, bem de todos e edificação da Sua Igreja. Toda esta dinâmica é vital, e geradora de felicidade!
Quanto mais aprofundo e assimilo a minha fé, quanto mais estou aberta, atenta e à escuta de Deus, mais desafiada e interpelada sou a viver em fidelidade e docilidade a uma relação de fé e amor que se traduz num estilo concreto de compromisso com Deus, com a Igreja e com a minha Congregação.
“Permanecei no meu amor” (Jo 15) tem sido um convite constante do Senhor Ressuscitado. Que me diz a mim? Que me quererá dizer o Senhor com este convite no meu aqui e agora? Fala-me de disponibilidade e adesão interior aos valores do Seu Evangelho nas minhas decisões diárias, quando estou mais cansada ou fechada nas minhas “reivindicações” ou “reclamações”!…
Permanecer na gratuidade do amor, quando não há a mesma resposta…
Permanecer na oração e escuta de Maria, quando tenho muito que fazer e servir como Marta…
Permanecer na atenção e amor às jovens quando tudo parece difícil…
“Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15). Termino com uma palavra muito importante: a alegria! Que tipo de alegria?… A alegria de que nos fala e contagia tantas vezes o nosso Papa Francisco, que é, em definitiva, a alegria que brota de um coração crente, transfigurado e concentrado no amor de Deus Pai e Irmãos, querendo dar a vida.
Um coração onde mora a alegria da fidelidade, da missão cumprida. Um coração como este quero desejar a todos os que ainda acreditam que é possível.
Célia Patrícia Abreu Faria, rmi
Religiosa de Maria Imaculada